Metodologia Terceira Margem
Ferramentas de uma Arquitetura para Reativar Territórios.
Ao trabalhar com o espaço subjetivo/imaterial junto ao objetivo/material, a Terceira Margem propõe um método próprio de projeto capaz de conceber ambientes de modo participativo e afetivo. Com o propósito de reativar ou potencializar os territórios é sugerida uma importante passagem antes do primeiro desenho. Parte-se do pressuposto que apesar dos habitantes terem intuições, incômodos, desejos, necessidades quando procuram alguém que possa ajudá-los a pensar os seus espaços, eles não sabem exatamente o que querem construir e tampouco as arquitetas podem saber. O que é absolutamente compreensível,desde que, para projetar, isso implique em responder a pergunta que propomos: qual mundo queremos habitar?
Construir ou reformar é uma grande oportunidade de transformação não apenas dos espaços mas também de seus habitantes. Os ambientes construídos não são neutros, eles ajudam a modelar os corpos e os modos de ser e viver. É por isso que investimos em uma pesquisa atenta ao inconsciente, que pode promover a passagem do pedido trazido pelo habitante para uma demanda real de projeto, ou ativar uma demanda existencial no projeto. As oficinas sensoriais em torno dos elementos da natureza - ar, fogo, água e terra - conduzem uma investigação de memórias, desejos e questões através de exercícios corporais, somáticos, trechos de filmes, desenhos, músicas, referências de arquitetura, entre outros. Essa pesquisa facilita a criação de respostas menos automáticas e funcionalistas e mais poéticas e políticas, tanto nos habitantes quanto nas arquitetas. Assim, trabalha-se no sentido de reativar (ou potencializar) antes os modos de viver para depois desenhar suas espacialidades, já conectadas ao mundo que se quer habitar.
Essa reativação de território busca levar o problema da arquitetura aos habitantes sem que eles tenham que desenhar o projeto. Faz do exercício de projetar um meio de reativar relações, corpos e afetos e evita associá-lo a um modelo hegemônico. O espaço é inseparável das vidas que o habitam e essa afirmação faz frente a grande crise social e ambiental que nos encontramos. Assim, projetar pode ser antes (re)ativar relações existenciais, para que elas possam dar sentido ao programa, aos conceitos e aos desenhos dos ambientes. Provocar uma reapropriação das práticas de autonomia dos territórios com reais relações de cuidado, o que necessariamente foge aos modelos coloniais e patriarcais. Essa perspectiva menos materialista e formal dos territórios, e da arquitetura, é desenhada junto a outras cosmovisões - a exemplo dos indígenas, dos negros e das mulheres - que foram silenciadas nos últimos séculos. São as noções de territórios relacionais, vitais e intimamente conectadas com a Terra que são nossas maiores fontes de inspiração.
Third Margin Methodology
tools of an architecture to reactivate territories
When working together with subjective/immaterial and objective/material, Terceira Margem (Third Margin Studio) proposes a singular method capable of conceiving of environments in a participatory and affective way. Aiming at reactivating or potentializing the territories, we suggest an important passage before the first sketch. We work with the principle that besides those who inhabit have intuitions, bothers, desires and necessities, when they search for someone to help them think through their spaces, they are not really sure of what they want to build up and then, in consequence, not even the architects can know. Such a thing is absolutely conceivable, only since, in order to project, this implies in answering the question: which world do we want to inhabit?
Constructing or refurbishing is a great opportunity to transform not only the spaces but also those who live in it. Constructed environments are not neutral, they help modelling bodies and ways of being and living. That is why we invest in a research that is attentive to the unconscious, which can feature / promote / foster the passage of the request made by the inhabitant to the project's real needs, or it can (also) activate an existential demand of the project. The sensorial workshops around the four nature elements – air, fire, water and earth – conduce an investigation of memories, desires and questions, making use of body and somatic exercises, film strips, drawing, music, architectural references, amongst other. This research facilitates the emergence of responses less automatic and functionalised, and urges more poetic and political questions, both in those who inhabit and in the architects working in a project. This way, Terceira Margem works in the sense of reactivating (or potentialising) modes of living in first instance, to then draw their spacialities, already then connected to the world that one wants to inhabit.
Such reactivation of the territory seeks for taking the problem of architecture to the inhabitants without demanding from them to draw the project. It makes from the projecting exercise a way to reactivate relations, bodies and affections and avoids associating them with an hegemonic model. The space is inseparable from the lives of those who live in it and such affirmation resonates with the large social and environmental crisis that we find ourselves. Therefore, to project can be, beforehand, to reactivate existential relationships, so they can give meaning to the program, the concepts and the drawings of the environments. It can provoke a reapropriation of the practices of autonomy of the territory with real (actual) care relationships, what necessarily escapes colonial and patriarchal models. This perspective, less materialistic and formal of the territories, and of architecture itself, is drawn together with other cosmovisions – such as the indigenous, the black communities and the women – who were silenced for centuries. The notions of relational and vital territories, intimately connected to the Earth are our bigger sources of inspiration.